Parada dos Burros
Capítulo 4
A leitura só chegou muitos anos depois em Parada dos Burros. Cisco foi o primeiro morador da vila a tomar coragem de ir a Serro não para comprar provisões, mas para freqüentar a escola. Em um ano, aprendeu a ler e a escrever o próprio nome, e voltou para casa trazendo consigo um caderno com algumas frases, escritas pela professora.
Todas as tardes, Cisco ia à casa de livros, que ficava ao fundo de uma pequena chácara. No começo, se contentava em ler as lombadas dos volumes, sempre tentando decifras as palavras a partir das frases que tinha escrita no seu caderno. Encontrava semelhança apenas nas “palavras pequenas”, como chamava preposições, artigos e pronomes. Aos poucos, começou a fazer associações fonéticas e identificar alguns substantivos e verbos. Ficou nessa prática por mais de um ano.
No fim da estação das águas, era praxe entre os moradores de Parada dos Burros virem num fim de semana até a casa dos livros para refazer o telhado de folhas. Ao fim do dia, dançavam na casa, para assentar o chão de barro, quase sempre revolvido pelas chuvas. Era o único dia em que se ocupavam da casa durante o ano.
Mas naquele inverno, Cisco se adiantou e foi lá na véspera do dia da reforma. O plano já havia sido maquinado por ele há tempo. Como o telhado estava completamente destruído, com o auxílio de uma escada ele retirou todos os livros mais altos das colunas que formavam as quatro paredes, e escondeu numa caverna próxima. A diferença de poucos centímetros na altura da casa não foi notada pelos homens que fizeram a reforma do telhado.
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