Tuesday, May 12, 2009

Mudança

Amigos, este blog lentamente está se mudando para moinhomeu.blogspot.com

Lá vocês encontrarão textos novos e alguns antigos, anteriormente publicados aqui.

Abraços a todos e obrigado pela leitura.

Monday, February 18, 2008

Sem título

Várias ligações internacionais para o México encarecem as contas de telefone do Kremlin.

Era Stalin passando Trotski.

Tuesday, February 05, 2008

Mariana

Tenho vontade de dizer às palavras o quanto as amo, mas nunca acho as palavras certas.
Saem de mim e ficam soltas, como um bloco de carnaval que se perdeu na terça a noite, e não vai mais voltar. Tenho ciúmes confessos e expressos. Detesto as ver por aí entre vírgulas que não as merecem, ou frases–abrigo que as põem em desconforto, como um cobertor que deixa os pés de fora quando se cobre o pescoço. Se posso, acordo de madrugada e tento cobri-las. Fico vigiando seu sono tranqüilo, e volto a dormir com a impressão de missão cumprida. Há um axioma que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras. Sonho roubar o imenso arquivo de imagens da empresa em que trabalho e trocar tudo por palavras. Viraria um fazendeiro rico. Por enquanto, cuido da minha pequena chácara. Cultivo minha cria, rego com a melhor água que posso, peço aos céus para que chova, e torço para que cresçam. Olho de esguelha para o dicionário, e sorrio contente: são rebeldes essas meninas. Imagine só: nem toda palavra que há no dicionário há no dicionário. Não há árvore no mundo que chegasse para um disparate desses. Borges e sua biblioteca que me desculpem. Palavra é palavra bonita. Adoro palavra que tem muitos ás. Gosto também das de hífen. Grão-de-bico. O tracinho lhes confere elegância. Mas voltando aos ás, é Mariana de quem gosto ultimamente. Tem três ás, e tanto pode ser Maria + Ana, como também algo que é próprio, ou originário de Maria. Pode ser ainda – vai no Houaiss que está lá – pode ser fruta-de-sabiá ou castanha-de-anta. É hífen que não acaba mais, é fruta, animal, é passarinho, é pau, é pedra é o fim do caminho. E a anta não espanta. Deve ser bonita essa planta.


M A R I A N A

Palavra que RI ,
que RIMA,
que MIA,

que AMA


que é MAR, que é AR

Meu par, meu amor, meu bebê, meu lugar.

Sunday, December 02, 2007

À Máquina

Quando eu era menino, meu pai costumava pedir para que eu apagasse alguma luz que havia deixado acesa bradando que não era sócio da Light. Isso numa época em que eu mal sabia o que era ser sócio, e muito menos o que significava Light. Com o tempo, soube de outros amigos, que a bronca também se repetia da mesma maneira na casa deles. Hoje, que bem sei o que é ser sócio, e tenho uma baita conta da Light para pagar todo mês, fico me perguntando como deve ter sido a infância do filho do sócio da Light. Imagino um palacete iluminado, com imensas janelas de vidro, ostentando luz em meio às casas de um bairro alto, talvez o Valparaíso. Toda vez que o filho apagasse alguma luz acesa na casa, o pai lhe diria carinhosamente: “Precisa, não filho, papai é sócio da Light.”

Mas o menino também tinha lá suas angústias. Muitos de seus amigos gostavam de dormir na sua casa, mas ele duvidava da honestidade da amizade deles. Podiam ser interesseiros. Não pelo seu dinheiro. No seu ciclo de amizade, havia filhos de sócios de empreiteiras, multinacionais e até bancos. Mas o filho do sócio da Light, às vezes, tinha a impressão de que os amigos só queriam ir à sua casa porque, como quase todos os meninos da sua idade, tinham medo do escuro. Mas ele não, ele tinha medo é de claridade. No auge do verão, quando ia para a piscina do Petropolitano, tão logo o sol de meio-dia começava a devorar as sombras, ele telefonava pra casa: “Genalva, vem me buscar que eu estou odiando.” A Babá, muitas vezes, cogitava a idéia de que ele era um menino problemático, triste. Mas ele se refugiava nas sombras de uma mangueira e brincava a tarde toda.

Hoje, acabou a luz na empresa. Esperamos por quase três horas para que ela retornasse, e nada. Quando o trabalho começou se acumular sobre as mesas, um dos sócios teve uma idéia brilhante: foi até um armário nos fundos da garagem, e retirou de lá quatro Remingtons empoeiradas, mas funcionando perfeitamente. Ele sorriu triunfante. A idéia de guardar as máquinas, há mais de quinze anos, não fora coisa de velho, como disseram à época. Feliz como um menino que ganha um brinquedo novo, eu comecei a traduzir um documento para o consulado. O tec-tec que meus dedos produziam me fez sentir uma imensa saudade do meu pai.

Friday, September 28, 2007

Poema?

Hoje não tem poema

Hoje baixou em mim espírito de porco espinho

rosa roseira urgência

eu caí com a mão inteira em cima do roseiral

rosa roseira pantanal

tá doendo pra caralho

Sunday, August 26, 2007

Desamor

1

Sidarta no chão, nos braços de Nina. Sem camisa, mostra o menino esquálido que fora nos últimos meses: a prisão lhe havia tirado um ano e meio de vida, e quase vinte quilos. Agora, Sidarta se esvai em sangue. Nina sabe que não há mais o que fazer. Abraça Sidarta e se entrega às dores que sente no peito. São punhaladas, que em total descompasso com seus soluços, parecem lhe afogar. Não sabe o que esperar. Não tem o que esperar. As únicas testemunhas, putas que esperavam o dia nascer nas cadeiras do quiosque ao lado, atravessaram rápido a Atlântica assim que ouviram os disparos. Nina sabe o que fazer: ajeita as mãos de Sidarta, morto, ao lado do corpo e sai. Dá três passos e volta. Retira com cuidado da cabeça de Sidarta a canga com a estampa imitando o calçadão de Copacabana e a abre para ver se está manchada de sangue. Só então se dá conta de que está sobre aquelas mesmas pedras portuguesas. Ri de pena. Volta a enrolar o pano na cabeça do menino e some por entre os prédios.

Wednesday, July 11, 2007

Esta é uma carta de suicídio

Uma carta de suicídio de quem não agüenta mais ver as prateleiras de livros de auto-ajuda e dos antidepressivos vazias.

De quem não suporta mais ver os amigos trocarem os anos de rebeldia e doação pela impaciente adesão ao mundo que existe.

Uma carta de suicídio de quem não suporta mais ver o mundo que existe.

De quem não suporta mais saber que para o mundo existir, torna-se necessário sacar a existência do menino que dorme ao meio-dia, na calçada cheia de gente. (Se não lhe saco a existência, não parto a caminho de lugar nenhum).

Mas para onde parto, já que adio meu existir num ato egoísta?

Não o adio por ninguém, senão por mim mesmo, e se o adio por mim mesmo, estou fugindo.

Se não sei para onde parto, como saberia para onde fujo?

Estanco minha fuga na consciência de que sei que há o menino que dorme ao sol de meio-dia, na calçada cheia de gente. E antes de qualquer compaixão, há a consciência, que me leva a compará-lo a um cachorro.

É como um cachorro, não mais um menino de rua. Ele não busca abrigo na marquise durante a noite, ou na chuva. Ele se estira exausto, ao sol do meio-dia, à passagem de todos. E fui eu quem lhe sugou a existência.

Da consciência, e não da compaixão, vem a culpa.

Mas a culpa a gente abana, como um cachorro sacode suas pulgas.

Sinto culpa também por ter medo, me odeio por ter medo. Tenho vontade de não ter nada, para não ter medo. Mas é preciso, antes, ter coragem para não ter nada.

Mas sinto que estou me perdendo. Voltando ao assunto, esta é uma carta de suicídio.

Não vou me matar, é claro, por causa do menino. Não o menino estirado no chão, ao sol de meio-dia. Talvez pelo medo que tenho de outro, o de olhos castanhos enormes, que me olha e pergunta:

- Você não queria ser cantor?

- Não, eu nunca quis ser cantor. Queria, isso sim, cantar bem.

- Mas esse é o verdadeiro desejo de ser cantor. Agora, veja você, quer ser jornalista, quer ser escritor. Não quer escrever bem. Entende a diferença?

Entendo e não entendo. O menino dos grandes olho castanhos é enigmático. Mas ele vê o menino estirado no chão ao sol de meio-dia.

Estou mais uma vez fugindo do assunto. Isto é uma carta de suicídio. E digo mais, é uma carta e um apelo. Que hoje, comigo, você que me lê também se suicide, porque não há motivo maior para isso do que os motivos que citei acima. E a eles poderia acrescentar muitos outros, mas todos convergem para as prateleiras de auto-ajuda e as dos antidepressivos cheias.

E se você concordar comigo que realmente há motivos para se matar por isso, vai concordar também que a vida sem as prateleiras de auto-ajuda e de antidepressivos vazias é a vida plena que queremos ter. E se assim é, a gente se mata para viver.

(Pausa grande)

Agora que já me matei, vou me redesenhar. Vou marcar pequenos pontos num papel, e em seguida conectá-los com linhas. Do desenho que sair, este sou eu. Se algum de vocês quiser seguir a receita, segue como exemplo, abaixo, alguns dos pontos que escolhi:

- Ter visto no curta da Maria-Flor o cartão postal que dei para ela.
- A morena que sambava na festa da Carol.
- A risada do Clodoaldo.
- A altivez do Rodolfo
- O fato de não ter nada para dizer sobre o Rafael
- O fato de ter pensado em escrever um texto sobre a nobreza de pessoas simples, e ter vontade de citar como exemplo o sambista Monarco, que parece um príncipe. Monarquia já!
- O fato de usar o livro Paz, Amor e SGT. Peppers como mouse pad.
- O fato de ter escrito um texto completamente desconexo, e não saber como terminá-lo, mas saber que não quero, e não vou terminá-lo depois.