Peixe
Consta que os três pegaram o ônibus na Nossa Senhora, na altura do Posto 6. Casal e filho saídos da praia. O pai pagou as passagens com uma nota de dez reais, e amassou o troco, enfiando moedas e cédulas no bolso da bermuda. Enfileirados, foram os três se posicionar na parte de trás do ônibus, à esperara de um lugar vago. O amarelinho estava cheio.
O menino segurou com uma mão a barra da saia da mãe, e com a outra, a barra de ferro por sobre o banco onde se sentava uma menina lourinha. Tímida nos seus dezoito anos, ela não ousou reclamar quando, numa freada, o menino puxou sem querer alguns fios de seu cabelo. Agüentou quieta a dor, virou para trás, e sorriu, como se seu sorriso pudesse sublimar não o instinto do menino, que bem poderia repetir o gesto uma curva adiante, mas a própria dor, tão dissonante numa tarde na qual acabara de deixar para trás, na praia, amigos, para encontrar adiante, no cinema, o namorado.
Uma fileira de bancos à frente, só que na coluna da esquerda, um homem dos seus quarenta anos, vestindo camiseta regata, sunga, e chinelo, segurava no colo, embrulhado em jornal, um peixe.Com pouco menos de um metro, o almoço descansava tranqüilamente, só com a cabeça de fora do invólucro de notícias que separava suas escamas salgadas da pele também salgada do homem.
Impávidos, homem e peixe ignoravam o olhar irrequieto do menino, que buscava desesperadamente um lugar para se sentar. Depois de percorrer todos os bancos da direita, varreu toda a coluna da esquerda, desde o trocador, parando de repente.
“Mãe, o neném do moço tem uma cara de peixe!”.
Dentro do diâmetro que uma voz de três anos foi capaz de alcançar, todos riram. Principalmente a menina lourinha, que esqueceu do puxão no cabelo e se lembrou do poema de Fernando Pessoa que o namorado lhe recitara há alguns dias, que falava sobre uma criança comendo chocolates. “Não há mais metafísica do que chocolates”. Era algo assim que dizia o poema. Não sabia ao certo o que queria dizer metafísica, mas compreendeu na hora, quando da recitação do poema, e agora, com o menino e o peixe. A menina encontrou o namorado na fila do cinema. O casal e o menino saltaram. E o dono da peixaria sorriu.
O menino segurou com uma mão a barra da saia da mãe, e com a outra, a barra de ferro por sobre o banco onde se sentava uma menina lourinha. Tímida nos seus dezoito anos, ela não ousou reclamar quando, numa freada, o menino puxou sem querer alguns fios de seu cabelo. Agüentou quieta a dor, virou para trás, e sorriu, como se seu sorriso pudesse sublimar não o instinto do menino, que bem poderia repetir o gesto uma curva adiante, mas a própria dor, tão dissonante numa tarde na qual acabara de deixar para trás, na praia, amigos, para encontrar adiante, no cinema, o namorado.
Uma fileira de bancos à frente, só que na coluna da esquerda, um homem dos seus quarenta anos, vestindo camiseta regata, sunga, e chinelo, segurava no colo, embrulhado em jornal, um peixe.Com pouco menos de um metro, o almoço descansava tranqüilamente, só com a cabeça de fora do invólucro de notícias que separava suas escamas salgadas da pele também salgada do homem.
Impávidos, homem e peixe ignoravam o olhar irrequieto do menino, que buscava desesperadamente um lugar para se sentar. Depois de percorrer todos os bancos da direita, varreu toda a coluna da esquerda, desde o trocador, parando de repente.
“Mãe, o neném do moço tem uma cara de peixe!”.
Dentro do diâmetro que uma voz de três anos foi capaz de alcançar, todos riram. Principalmente a menina lourinha, que esqueceu do puxão no cabelo e se lembrou do poema de Fernando Pessoa que o namorado lhe recitara há alguns dias, que falava sobre uma criança comendo chocolates. “Não há mais metafísica do que chocolates”. Era algo assim que dizia o poema. Não sabia ao certo o que queria dizer metafísica, mas compreendeu na hora, quando da recitação do poema, e agora, com o menino e o peixe. A menina encontrou o namorado na fila do cinema. O casal e o menino saltaram. E o dono da peixaria sorriu.
1 Comments:
manero cara, coisas curtas e diretas assim sao a boa. a carol (da ECO) me passou esse blog. interessante o quanto as pessoas acabam por escrever sobre ônibus ou algo que se passe diante ou dentro dele. a ideia do lotação ser o ponto onde convergem todos os tipos de gente e onde as pessoas se despojam de suas funções para se tornarem simples "passageiros". esse é outro ponto legal, o estar "entre". Um espaço e um tempo de conexão, mas que, no fundo, pode ser um objetivo por si só; a saida e a chegada nao importando mais.
tem também a parada da superioridade do motorista e dos conflitos que rolam... enfim dá uma olhada depois no meu blog se tiver paciencia, pois lá tem dois continhos que se passam em pontos de ônibus. o foda dessas paradas é que nao dá pra postar os textos maiores né, senão botava um que se passa num 996.
prazer
lucas
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