Teorias
Tenho várias teorias malucas, entre elas uma de que na casa das pessoas existem coisas únicas, não encontrada em outros lares. Não se trata de sentimentos, relações, pessoas, ou ambientes. Trata-se de objetos, quase sempre pequenos. Na minha vó, por exemplo, tinha um artefato de plástico, em formato de "tê", amarelo, da cor dos barbeadores descartáveis da Gillete, que auxiliava a gente a apertar a pasta de dente conforme fossemos usando. Você encaixava uma fenda que havia na parte maior do “tê” no final do tubo, e girava a outra parte. Então, como num milagre, tínhamos creme dental.
Tem também uns suportes para colocar panelas quentes em cima da mesa que ainda existem. Eles são feitos de barras finas de metal entrelaçadas. Em aberto, é lozangular, mas se dobram e ficam compridos. A melhor parte é que eles abrem e fecham como uma sanfona, e se você estica na vertical, tem que comprimi-los na horizontal para que se fechem, e para reiniciar a operação, tem que se fazer o contrário. É difícil de explicar, mas esse simulacro da teoria da relatividade dimensional vem servindo de brinquedo há duas gerações.
Já na casa de um amigo, que freqüentei muito na adolescência, tinha um suporte de facas. Era como um cavalete de metal. Uma barra fina de dez centímetros de comprimento, mais os ou menos, e nas extremidades, pequenas barras formando um "Xis”. Facas sujas de manteiga não precisavam pousar sobre a toalha da mesa, ou na borda de pires.
Se tivesse paciência e capacidade descritiva para tanto, poderia enumerar outros objetos, mas paro por aqui. É possível até que eles existam em outras casas, mas duvido um pouco que possam existir dois lares dentro de um mesmo arquipélago social no qual eles se repitam. Explicando melhor, não é permitido, pela lógica que organiza o cosmos, que eu conheça alguém que tenha em casa um apertador de pasta de dentes, nem dois amigos que tenham um apoiador de facas.
Tem também uns suportes para colocar panelas quentes em cima da mesa que ainda existem. Eles são feitos de barras finas de metal entrelaçadas. Em aberto, é lozangular, mas se dobram e ficam compridos. A melhor parte é que eles abrem e fecham como uma sanfona, e se você estica na vertical, tem que comprimi-los na horizontal para que se fechem, e para reiniciar a operação, tem que se fazer o contrário. É difícil de explicar, mas esse simulacro da teoria da relatividade dimensional vem servindo de brinquedo há duas gerações.
Já na casa de um amigo, que freqüentei muito na adolescência, tinha um suporte de facas. Era como um cavalete de metal. Uma barra fina de dez centímetros de comprimento, mais os ou menos, e nas extremidades, pequenas barras formando um "Xis”. Facas sujas de manteiga não precisavam pousar sobre a toalha da mesa, ou na borda de pires.
Se tivesse paciência e capacidade descritiva para tanto, poderia enumerar outros objetos, mas paro por aqui. É possível até que eles existam em outras casas, mas duvido um pouco que possam existir dois lares dentro de um mesmo arquipélago social no qual eles se repitam. Explicando melhor, não é permitido, pela lógica que organiza o cosmos, que eu conheça alguém que tenha em casa um apertador de pasta de dentes, nem dois amigos que tenham um apoiador de facas.
3 Comments:
Olá Pedro, estou adorando seus textos e resolvi comentar este por um motivo muito bobo... Na casa da minha avó também havia suportes para panelas quentes iguais aos que você descreveu! Bom, como você não me conhece, acho que sua teoria continua valendo, né? Parabéns pelos textos!
Na casa da minha avó tb tem isso, eu tb me chamo Carol, mas como vc me conhece muito bem sua teoria cai por terra... Na minha casa tem um secador de verduras!
Primeiro, obrigado pela leitura e pelo elogio, Carol que eu não conheço.Carol que eu conheço, não é de hoje que as pessoas têm falado exatamente essa frase sobre o aparador de panelas sanfonado: "Na casa da minha vó tinha um ". Desisto da teoria, que em momento algum se pretendia cientificamente provável. De qualquer forma, vale a observação de que casa de vó é realmente um universo fascinante. Estou juntando objetos para fazer um segundo texto. Descobri um abridor de potes de conserva, mas temo divulgá-lo, pois os netos homens perderiam grande parte de sua utilidade, o que lhes renderia menos ingressos nesse mundo tão rico.
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