Desamor
1
Sidarta no chão, nos braços de Nina. Sem camisa, mostra o menino esquálido que fora nos últimos meses: a prisão lhe havia tirado um ano e meio de vida, e quase vinte quilos. Agora, Sidarta se esvai em sangue. Nina sabe que não há mais o que fazer. Abraça Sidarta e se entrega às dores que sente no peito. São punhaladas, que em total descompasso com seus soluços, parecem lhe afogar. Não sabe o que esperar. Não tem o que esperar. As únicas testemunhas, putas que esperavam o dia nascer nas cadeiras do quiosque ao lado, atravessaram rápido a Atlântica assim que ouviram os disparos. Nina sabe o que fazer: ajeita as mãos de Sidarta, morto, ao lado do corpo e sai. Dá três passos e volta. Retira com cuidado da cabeça de Sidarta a canga com a estampa imitando o calçadão de Copacabana e a abre para ver se está manchada de sangue. Só então se dá conta de que está sobre aquelas mesmas pedras portuguesas. Ri de pena. Volta a enrolar o pano na cabeça do menino e some por entre os prédios.
Sidarta no chão, nos braços de Nina. Sem camisa, mostra o menino esquálido que fora nos últimos meses: a prisão lhe havia tirado um ano e meio de vida, e quase vinte quilos. Agora, Sidarta se esvai em sangue. Nina sabe que não há mais o que fazer. Abraça Sidarta e se entrega às dores que sente no peito. São punhaladas, que em total descompasso com seus soluços, parecem lhe afogar. Não sabe o que esperar. Não tem o que esperar. As únicas testemunhas, putas que esperavam o dia nascer nas cadeiras do quiosque ao lado, atravessaram rápido a Atlântica assim que ouviram os disparos. Nina sabe o que fazer: ajeita as mãos de Sidarta, morto, ao lado do corpo e sai. Dá três passos e volta. Retira com cuidado da cabeça de Sidarta a canga com a estampa imitando o calçadão de Copacabana e a abre para ver se está manchada de sangue. Só então se dá conta de que está sobre aquelas mesmas pedras portuguesas. Ri de pena. Volta a enrolar o pano na cabeça do menino e some por entre os prédios.