Wednesday, July 11, 2007

Esta é uma carta de suicídio

Uma carta de suicídio de quem não agüenta mais ver as prateleiras de livros de auto-ajuda e dos antidepressivos vazias.

De quem não suporta mais ver os amigos trocarem os anos de rebeldia e doação pela impaciente adesão ao mundo que existe.

Uma carta de suicídio de quem não suporta mais ver o mundo que existe.

De quem não suporta mais saber que para o mundo existir, torna-se necessário sacar a existência do menino que dorme ao meio-dia, na calçada cheia de gente. (Se não lhe saco a existência, não parto a caminho de lugar nenhum).

Mas para onde parto, já que adio meu existir num ato egoísta?

Não o adio por ninguém, senão por mim mesmo, e se o adio por mim mesmo, estou fugindo.

Se não sei para onde parto, como saberia para onde fujo?

Estanco minha fuga na consciência de que sei que há o menino que dorme ao sol de meio-dia, na calçada cheia de gente. E antes de qualquer compaixão, há a consciência, que me leva a compará-lo a um cachorro.

É como um cachorro, não mais um menino de rua. Ele não busca abrigo na marquise durante a noite, ou na chuva. Ele se estira exausto, ao sol do meio-dia, à passagem de todos. E fui eu quem lhe sugou a existência.

Da consciência, e não da compaixão, vem a culpa.

Mas a culpa a gente abana, como um cachorro sacode suas pulgas.

Sinto culpa também por ter medo, me odeio por ter medo. Tenho vontade de não ter nada, para não ter medo. Mas é preciso, antes, ter coragem para não ter nada.

Mas sinto que estou me perdendo. Voltando ao assunto, esta é uma carta de suicídio.

Não vou me matar, é claro, por causa do menino. Não o menino estirado no chão, ao sol de meio-dia. Talvez pelo medo que tenho de outro, o de olhos castanhos enormes, que me olha e pergunta:

- Você não queria ser cantor?

- Não, eu nunca quis ser cantor. Queria, isso sim, cantar bem.

- Mas esse é o verdadeiro desejo de ser cantor. Agora, veja você, quer ser jornalista, quer ser escritor. Não quer escrever bem. Entende a diferença?

Entendo e não entendo. O menino dos grandes olho castanhos é enigmático. Mas ele vê o menino estirado no chão ao sol de meio-dia.

Estou mais uma vez fugindo do assunto. Isto é uma carta de suicídio. E digo mais, é uma carta e um apelo. Que hoje, comigo, você que me lê também se suicide, porque não há motivo maior para isso do que os motivos que citei acima. E a eles poderia acrescentar muitos outros, mas todos convergem para as prateleiras de auto-ajuda e as dos antidepressivos cheias.

E se você concordar comigo que realmente há motivos para se matar por isso, vai concordar também que a vida sem as prateleiras de auto-ajuda e de antidepressivos vazias é a vida plena que queremos ter. E se assim é, a gente se mata para viver.

(Pausa grande)

Agora que já me matei, vou me redesenhar. Vou marcar pequenos pontos num papel, e em seguida conectá-los com linhas. Do desenho que sair, este sou eu. Se algum de vocês quiser seguir a receita, segue como exemplo, abaixo, alguns dos pontos que escolhi:

- Ter visto no curta da Maria-Flor o cartão postal que dei para ela.
- A morena que sambava na festa da Carol.
- A risada do Clodoaldo.
- A altivez do Rodolfo
- O fato de não ter nada para dizer sobre o Rafael
- O fato de ter pensado em escrever um texto sobre a nobreza de pessoas simples, e ter vontade de citar como exemplo o sambista Monarco, que parece um príncipe. Monarquia já!
- O fato de usar o livro Paz, Amor e SGT. Peppers como mouse pad.
- O fato de ter escrito um texto completamente desconexo, e não saber como terminá-lo, mas saber que não quero, e não vou terminá-lo depois.

Sunday, July 08, 2007

Pensamento do dia: ouça mais o seu amigo seqüela

Dois amigos numa mesa de bar da Renânia.

- Ô Marx, vou pedir mais um pernil com babata. Divide comigo?

- Pede aí, pode pedir. Ô amigo, traz uma cerveja escura, por favor.

- Pô, cara, experimenta essa daqui, vermelha. É de uma cidadezinha... Rapaz, esqueci o nome agora. Ali, perto da capital da Hungria, um principadozinho, como é o nome? É Wisn alguma coisa.

- Não sei não cara. Não conheço. Mas eu prefiro cerveja escura que me dá menos azia. Mas você falou esse negócio de capital, rapaz, sabe que eu tava pensado esses dias...É...Ah, esquece essa porra!.

- Pensando o que, rapaz, fala aí?

- Não, porra nenhuma. Deixa pra lá. Besteira minha. Viagem.

- Pode falar cara, desembucha. É alguma coisa com tua mulher?

- Hahaha, não, nada a ver, era uma idéia de um livro, que eu tive, mas é viagem minha.

- Então beleza. Olha o pernil aí!

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Numa taberna em Viena.

- Pô Sig, tem mais de um ano que te chamo pra chegar lá na minha fazenda, e você nada. Fica nessa onda de estudar, estudar.

- Cara, tô meio sem tempo mesmo. Mas vamos ver, o verão chegando aí, quem sabe.

- Então quero ver, hein? Ó, até o verão, tem um leitão que eu castrei não tem duas semanas, até lá o bicho já vai estar grandão, minha mulher prepara um pernil, que não é brincadeira.

- Castração, né? Pode crê.

- É, pô, castração. Pro bicho crescer.

- Sabe que esse dia eu escrevi um negócio sobre isso, mó viagem.

- Poema ou prosa?

- Não, uma viagem mesmo, parece papo de maluco, mas faz mó sentido.

- Pode crê.

- Mas sei lá também. Quando escrevo doidão, acordo de manhã e rasgo a porra toda.

- Hahaha.

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Reuniãozinha na república de estudantes da Universidade Politécnica Federal Suíça.

- Aí cara, tem alguém batendo na porta.

- Ih, dichava então, dispersa geral que pode ser da reitoria.

- Entra embaixo da cama. Ô Johan, se tranca no banheiro.

O estudante dono do quarto abre a porta.

- Pode sair, galera, que é o Wilhelm.

- Colé mermão, que cara é essa ?

- Cara, passei na casa da Marie, ela tinha saído com o Lorentz, da matemática. Filha da puta, cara.

- Calma, rapaz. Senta aqui. Toma uma cerveja.

- Cerveja é o caralho. Eu vou matar aquela piranha.

- Calma, cara, não adianta nada ficar nervoso.

- Nervoso? Cara, ela me sacaneou, isso eu não admito.

- Pera aí também, ô Wilhelm. Isso também é relativo. Vocês nem tinha compromisso de nada. E você acha que ela não sabe que você dá teus pulos também?

- Relativo é o caralho.

Um dos estudantes sobe na cama, de sapatos e tudo, e grita, levantando uma garrafa de cerveja:

- Tudo é relativo!

- Ih, caralho, corta a cerveja do Albert que ele já tá doidão!